quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Consciência Cósmica, Divindade e Outros Estados Enteogênicos! [Portas da Percepção 184#]

por Fernando Beserra

Salve galera. Estamos terminando aqui o principal capítulo do Neurosoup Trip Guide da Krystle Cole, que temos traduzido ao longo dos últimos meses. A tradução está longe de ser a ideal, mas certamente contribuirá para quem não lê inglês e deseja estudar o universo enteogênico. Muitas coisas têm acontecido no “universo enteogênico”, até a proibição estúpida da ANVISA da Salvia divinorum. É nosso papel, enquanto enteogênicos ou não-enteogenicos – mas amantes da diversidade e defensores da liberdade individual – reforçar através dos nossos discursos e comportamentos que outra política de drogas é possível, viável e, mais do que isso, fundamental. Outrossim, é possível e fundamental que possamos contribuir para viagens mais profícuas na psico-náutica, que possam fazer com que tratemos melhor nossos irmãos humanos, nosso planeta e passamos a ficar um pouco mais conscientes de nossas sombras internas, facilitando que irradiemos pelo menos um pouco mais de luz.

 

Consciência Cósmica ou a divindade?

 

Consciência cósmica ou a divindade é um conceito difícil de descrever. Isso é porque as palavras que temos avaliáveis em nossa linguagem não são avançadas ou desenvolvidas o bastante para permitir a descrição adequada. Além disso, uma vez que você tenha descrito e colocado palavras para isso, você falhou para verdadeiramente capturar sua essência. Essa divindade é o paradoxo último; tudo e nada, todo tempo e nenhum tempo, abrangendo tudo o pensamento e nenhum pensamento. Algumas pessoas descrevem-na como último estado da consciência (awareness) não-dual; enquanto outros a descrevem como realidade com a retirada de todo o véu.

 

De acordo com Ken Wilber (2000), “Dentro do mais profundo, além do infinito. Em toda consciência (awareness) presente, sua alma expande para abraçar o Cosmos inteiro, então o Espírito permanece sozinho, como as simples palavras de como é. A chuva não cai mais sobre você, mas dentro de você; o sol brilha dentro do seu coração e irradia pelo mundo, abençoando-o com graça; supernovas giram em sua consciência, o trovão é o som do seu próprio coração estremecido (exhilarated); os oceanos e rios não são nada, exceto o seu sangue pulsando para o ritmo de sua alma. Infinitamente ascendendo mundos de dança luminosa no interior de seu cérebro; infinitamente descendendo mundo da cascata da noite em torno de seus pés; as nuvens arrastam-se pelo céu de sua própria mente liberta, enquanto o vento sopra através do espaço vazio onde o si-mesmo costumava ser. O som da chuva caindo no telhado é o único si-mesmo que você pode encontrar, aqui no mundo óbvio do gosto único e cristalino, onde o interior e o exterior são ficções bobas e si-mesmo e outros são mentiras obscenas, e a simplicidade sempre presente é o som de uma mão batendo palmas loucamente por toda eternidade. Na maior profundidade, o simplesmente o que é, no fim da jornada, como sempre foi, exatamente onde isso começou”.

 

Esse tipo de divinidade também pode ser descrita usando uma analogia, na qual por sinal é o que a maioria das maiores religiões do mundo têm feito. Imagine que cada pessoa viva é a ponta de um dos dedos de sua mão. Note que a base de sua mão conecta todos os dedos. Nós iremos chamar essa base de Divindade. Agora, no seu vívido estado normal de percepção, nós não experienciamos Deus. Nós apenas experienciamos nossa ponta do dedo; essa armadilha de nossos cinco sentidos. Entretanto, durante nossos sonhos, meditações, rezas, e através do uso e enteógenos nós podemos viajar além do dedo em direção a mão. Algumas vezes nós podemos mesmo encontrar a mão a experienciar a base de toda a existência. Quando nós descobrimos a mão, toda as nossas questões universais são respondidas em um instante eterno. Nós estamos abertos, desembaraçados, e preenchidos com o amor infinito do universo. Nós somos um com toda a humanidade e nós lembramos quem nós sempre fomos o tempo todo. Nós vemos a fachada da existência da ponto de nossos dedos e entendemos sua verdadeira natureza.

 

Outras Experiências

 

Existem tantos diferentes tipos de experiência que, na Sessão de Reporte de Viagem no website eu criei uma categoria “outros” para as pessoas postarem lá. Moloko descreveu sua viagem mental durante uma experiência com LSD, “Ambiente: cinco homens de 20 anos, um homem velho, um grupo de amigos mútuos, sentados de pernas cruzadas em torno de um “coração” (5 pedras arranjadas em um circulo, com algumas flor silvestres dispostas nele; no topo de uma colina, no meio da manhã, meados de Junho, ano 1967, o tempo está nublado (sem sol). Nos tomamos um ácido Sandoz – o melhor! Nós estamos esperando pelo seu efeito. Essa é minha primeira viagem com ácido! Nada ainda, nós concordamos juntos. Permanecemos esperando. Então alguém fala: “Vamos comer uma laranja”. Ele começa a descascar a laranja… então… os cues se abrem… uma emanação de raios de sol corre como um raio através de uma fenda nas nuvens, diretamente, e apenas em laranja... o qual se torna uma irradiante cor sobrenatural brilhante e florescente... coincidindo exatamente com o primeiro momento que a casca foi aberta com o manuseio forçado para... os óleos da casca borrifam no ar com extrema câmera-lenta, e então... coloque... aqui...brilhando, suspendido, multi-facetado, e extremamente brilhante... parou no tempo! O momento impressionante que finalmente termina, embora, nós olhamos um para o outro, capturando duplamente a verificação daquela subida percepção incrível. Nós todos vimos exatamente a mesma coisa em “outra realidade” no exato e mesmo momento. No flash daquele ofuscamento, fascinante, instante mágico, o grupo simultaneamente tinha entrado na viagem junto. Isso é sincronicidade!

 

ShadyGrove nos contou sobre sua viagem durante uma experiência com LSD, “Eu fui de volta para dentro e eu estava começando a me mover para o passado do pico. Eu decidi tocar guitarra então eu abri o iTunes para tocar junto algum Grateful Dead. Eu comecei o som “Sugaree” e quando chegou o tempo para o solo de guitarra eu comecei a explodir com criatividade. Meus solos não eram como quando eu estou sóbrio, eu podia sentir a música e saber exatamente onde eu queria ir com meu toque. É como se não houvessem barreiras para meu toque de guitarra e eu comecei a crescer sobrecarregado com alegria. Eu estava tão excitado durante aquele tempo que eu estava dançando intensamente para trás e adiante com meu jogo.

6 comentários:

  1. Muito fera...as pessoas nunca deveriam ser privadas dessa substâncias..por isso o mundo é tão podre como é, as pessoas não conhecem a verdadeira essência do ser, conhecem apenas o desejo pela matéria (dinheiro, carro, casa, etc),vivendo sempre num profundo sono !

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  2. Nossa, eu tive varias sensações com Cannabis, de levitar, de sair fora do corpo e tentar se manter fora, é muito dificil, tem que ter um alto controle mental para isso, por isso comecei a meditar sobre o efeito e quando fui meditar sobrio, consegui achar um ponto de equilibrio mental mais facilmente e por mais tempo, recomendo a todos a meditação, experimentei fumar um antes de dormir, e varias vezes sentia que estava dormindo fora de meu corpo, acordava quando algo me puxava para dentro de meu corpo novamente, como se fosse um sensação de liberdade misturada ao medo... Ai reparei que aquilo era uma das experiencias que nunca sentiria "sóbrio". Abraços, adoro esse tipo de postagem no site, muito bom o espaço! Parabéns a todos do Hempadão!

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  3. O espaço para discutirmos isso mesmo, porque se deixarmos a maioria dos psiquiatras vão interpretar, pelo viés positivista, do ponto de vista da psicopatologia. Um absurdo.

    É nosso dever colocar em dabate os estados alternativos de consciência que, afinal, milhões de pessoas atravessam.

    Legal o relato das experiências Lucas!

    Abç

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  4. A dissolução do ego provocada por drogas psicodélicas é muitas vezes associadas ao estado de bodhi (o estado de iluminação budista).

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  5. Tá aí o problema: essa vontade humana de ser o centro do Universo. Esses 'instantes eternos', verdades absolutas, estão na cabeça de quem usou o enteógeno, e apenas isso. Não tente aplicar na (até última instancia) nossa realidade. Veja por esse lado: um ateu cético que toma ácido, continua sendo ateu, e enxerga suas verdades absolutas e instantes eternos para reforçar o seu ateísmo. Um cristão, não. Muito provavelmente vai imaginar Jesus. Um rastafari, Jah, sei lá. Mas tudo depende do ponto de vista de quem usou o enteógeno. Se 100% dos relatos de enteógenos tivessem exatamente as mesmas caracteristicas para Deus, divindade, união com o cosmo, aí sim, temos algo interessante. Mas o fato é outro. Cada um tem sua experiencia, seu ponto de vista. Párem de tentar impor suas supostas revelações universais, que são completamente diferentes das minhas, do fulano e do siclano.

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  6. Ao anonimo acima,

    Por mais que uma realidade última seja inacessível, especialmente quando se discute teologia ou congeneres, o que seria da experiência humana sem o sentido? O que seria da experiência humana sem a imaginação?

    Veja que ninguem aqui está dizendo que você deve aceitar ser ateu, teista, politeista ou qualquer destes ismos. Estamos falando de modos de entender nossas experiências, que estão colocadas em um plano distinto da razão ocidental, que você utilizou inclusive para construir seu argumento, e que eu utilizo agora para respondê-lo.

    A realidade da experiência humana é esta. Inacreditável, por vezes. Banal, tantas outras. Temos algo interessante, absolutamente interessante, na experiência enteogênica. Embora as experiências de numinosidade sejam distintas, existem espécies de agrupamentos possíveis de serem realizados fenomenologicamente, bem como traços característicos, como a própria numinosidade presente nestas experiências, afetos que não são ordinários ou típicos na experiência de vigília.

    Portanto, anonimo, ao concordar que a experiência não pode ser um dogma imposto ao outro, quem experienciou sabe da importância do evento para si, que é capaz de transformar uma pessoa. Outra coisa comum é que a experiência enteogênica muitas vezes leva a uma transformação de posturas e crenças.. ela não apenas re-afirma crenças. A experiência entogênica é uma das mais profícuas para transformação psicológica, o que é risco e virtude ao mesmo tempo. Ela trás ensinamentos e sabedoria, que devem sempre ser interpretados com calma e paciência pelo Eu da pessoa, pois tratam-se comumente de informações proveniente do centro organizados da personalidade inconsciente, o que chamamos de si-mesmo(self, selbst).

    Forte abraços e muita luz,
    Fernando Beserra

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