Quando o governo federal confisca automóveis, barcos, dinheiro, propriedades e outros bens pessoais, desencadeiam-se procedimentos baseados em leis cuja origem se encontrava na superstição medieval.
A lei geral inglesa da Idade Média impunha a apreensão de qualquer objeto que causasse a morte de uma pessoa. Conhecido como "deodand", o objeto, tal como uma arma ou um carro de bois desgovernado, era personificado e declarado impuro ou maléfico, e apreendido pelo rei.
Os atuais procedimentos de apreensão "in rem" (contra coisas ao invés de contra pessoas) são ações cíveis dirigidas contra o próprio bem. Baseando-se numa analogia com o "deodand", uma ficção "personificadora" legal declara que o acusado é o bem. Ele é considerado culpado e condenado tal como se fosse uma pessoa — sendo irrelevante e a culpa ou inocência do seu dono.
Aplicando esta ação cível aos procedimentos de apreensão, o governo passa à margem de quase todas as proteções individuais garantidas pela Constituição. Não há nenhuma Sexta Emenda garantindo o direito a um advogado. É invertida a presunção de inocência até ser provada a culpa. Cada violação de um direito constitucional é então usada como base para a destruição de outro. A violação do procedimento devido e normalizado de "inocência até ser provada a culpa" garantido pela Quinta Emenda, é usada para destruir a proibição de dupla incriminação. Mesmo a absolvição das acusações do crime em que se baseia a apreensão não impede os mesmos factos de serem julgados de novo porque, embora o governo não tivesse conseguido provar que um crime fora cometido, no segundo julgamento o acusado deve apresentar prova de inocência.
O Supremo Tribunal sustenta que é constitucional apreender bens in rem de uma pessoa que faz um uso completamente inocente e não-negligente desses seus bens. Os tribunais de instâncias inferiores aceitam argumentos de promotores públicos segundo os quais se é permissível apreender bens de pessoas completamente inocentes, então as proteções constitucionais não são aplicáveis a quem seja culpado mesmo de delitos menores com drogas.
Ao contrário das ações cíveis entre pessoas individuais, o governo está imune a um contra processo, podendo usar os seus recursos ilimitados para pressionar repetidamente uma acusação, na mera esperança de convencer um único jurado de que o acusado não apresentou provas convincentes.
As apreensões impostas pela coroa britânica levaram os fundadores da nossa nação a proibir as cartas de proscrição (apreensão consequente à condenação) no primeiro artigo da Constituição Americana. O corpo principal da Constituição proíbe também a apreensão de bens por crime de traição. O primeiro congresso aprovou um estatuto, que ainda hoje é lei, afirmando que "Nenhuma condenação ou julgamento resultará em derramamento de sangue ou confisco de propriedade". Porém, os antigos americanos viriam a incorporar procedimentos in rem (acusações contra uma coisa) na legislação marítima, com vista a apreender navios inimigos no mar e obrigá-los a pagar taxas aduaneiras.
O OnJack publica, semanalmente, trechos da tradução do livro de Jack Herer, The Imperor Wears no Clothes.
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